Open Science (Ciência Aberta)

Futuro digital (escrita criativa)

A vida exige da gente estar sempre “on-line”: respostas imediatas a qualquer momento do dia.
“Seu trabalho é a disponibilidade”, já disse um chefe em um alto cargo high-tech que tive.
O novo proletariado não tem domingo, não tem feriado, não tem férias.
Não dorme, não almoça, não vai para casa ao meio-dia fazer almoço e assistir ao noticiário em família.
Trabalha em casa, trabalha no trabalho.
Trabalha.
Não produz, mas trabalha.
Assim você pode conviver mais com os filhos, dizem.
E os filhos ficam ali na frente do YouTube, que vai decidindo, entre vídeos curtos em um encadeamento infinito, com será o cérebro daquelas crianças.
Crianças dispersas, pais dispersos.
Ninguém está ali.
Zumbis digitais, sem presença, sem presente.
Cansaço, distração, desinteresse, excesso de informação, falta de vida.
Em algum lugar há o sol, a areia, a grama, e ouvem-se corações pulsantes.
Não ali, onde tudo se mistura e o tempo flui acelerado e desatento, entre os dedos os grãos de areia do tempo passam, caem ao chão, e são varridos para longe da assepsia do lar-trabalho-tela-sem-dia-sem-noite-sem-estações-do-ano.
E rumo a um futuro incerto.
Digital.

10 de dezembro de 2024

Ana Luisa Zago de Moraes

Colonialismo digital (escrita criativa)

Li esses dias que o Brasil não produz chips, tampouco semicondutores, e que as plataformas utilizadas pelas Universidades para armazenar suas pesquisas são estrangeiras.
Colonialismo digital, chamam.
Soube também que os projetos para produção de semicondutores e chips no Brasil ficaram todos inacabados.
Terminou o orçamento e não entregaram, disseram.
Foi o ano fiscal: no outro ano, não houve orçamento para o projeto.
O coordenador teve que mudar para Singapura com a família, alguns pesquisadores conseguiram bolsas nos Estados Unidos e na Europa, e o auxiliar administrativo “virou” Uber.
Uma jornalista tentou pautar o tema na grande mídia, mas os trending topings do Twitter eram sobre política, religião, gênero e racismo.
Se não tiver ódio não vende, disse seu Editor-chefe.
“Mas não é o colonialismo digital que está pautando essa polarização toda? Se não tivermos tecnologia para contrapor vamos virar fantoches!”.
Nisso ela viu as cordinhas movendo os braços do editor, e pensou que é mais fácil vender ódio mesmo.
10 de novembro de 2024 Ana Luisa Zago de Moraes

Tráfico de pessoas, migração e tecnologia: o papel das instituições brasileiras e portuguesas

Palestra proferida em 21 de fevereiro de 2025 no III Congresso sobre Tráfico de Pessoas da Faculdade de Direito Mackenzie, em São Paulo-SP, no painel "tráfico de pessoas migração e tecnologia: o papel das instituições brasileiras e portuguesas na mitigação do crime de tráfico de pessoas", juntamente com os Profs. Fábio Bechara (MACKENZIE) e Gustavo Acciolly (MPT): https://youtu.be/-EWCjsjDoro
Sobre Mim

Ana Luisa Zago de Moraes atualmente pesquisa proteção de defensores de direitos humanos ameaçados e regulação das plataformas digitais.