Open Science (Ciência Aberta)

Por que Open Science (Ciência Aberta)?

Ciência Aberta é um movimento que visa tornar o conhecimento científico mais acessível, colaborativo, transparente e reutilizável.
Princípios: Objetivos: Iniciativas:
https://www.gov.br/cgu/pt-br/governo-aberto/artigos/ciencia-aberta-uma-nova-forma-de-fazer-ciencia-mais-colaborativo-transparente-e-sustentavel/ciencia-aberta-um-novo-modo-de-fazer-ciencia-mais-colaborativo-transparente-e-sustentavel#:~:text=A%20Ci%C3%AAncia%20Aberta%20pode%20ser,mais%20colaborativo%2C%20transparente%20e%20sustent%C3%A1vel.
A Rede Brasileira de Reprodutibilidade é uma iniciativa que promove práticas de pesquisa transparentes e confiáveis:
https://www.reprodutibilidade.org/
A UNESCO publicou uma Recomendação sobre Ciência Aberta em novembro de 2021:
https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000376893

Para lembrar do coração (escrita criativa)

Todos os dias Joaquim traz uma coisa da escola: uma florzinha, um desenho, uma pedrinha.
Demorei para entender que é a forma que ele tem de dizer: mamãe, senti tua falta, te amo.
As professoras no início do ano, também demoram: - Joaquim, o que você está catando no chão? Você vai se sujar.
E eu, todos os dias, fico aguardando o que vou encontrar na mochila.
Hoje foi um croissant de chocolate.
Eu perguntei: sobrou o lanche da escola, Joaquim? – Não, mamãe, não teve recreio, estava chovendo, então eu peguei na cantina para você.
Em segredo, todos os dias, aguardo para ver o que o fez lembrar de mim.
Um doce, uma plantinha, não importa. O que vem na mochila é um pedaço do meu coração.
Ana Luisa Zago

Vou te contar (escrita criativa)

Marina, senta aqui, vou te contar uma história.
Eu sempre disse que você não tinha pai. Na certidão de nascimento está só meu nome, eu sei.
Eu te criei sozinha, e você sentiu o peso da responsabilidade de sermos só nós duas no mundo, e o mundo pesa, pesa toneladas.
Em uma corda-bamba entre penhascos, sob um monociclo, vivemos uma vida toda equilibrando o peso do mundo.
Sabe aquela história de que precisa de uma comunidade para criar um ser humano? Pura mentira.
O mundo odeia mulheres. Mulheres pretas e grávidas, então. Odeia mais ainda.
Não servem para o trabalho, não servem para cuidar de ninguém, e ainda vão ter uma criança preta para criar... uma criança que mama, e que chora, aí só vem desprezo de tudo quanto é lado.
Eu morava em casa de família, morei desde sempre, uma família que me buscou em Barreiras e me levou para São Paulo quando eu ainda era criança.
Não estudei, apenas limpava a casa, cuidava das crianças, e adormecia num quartinho sem janela que ficava logo depois da cozinha, junto com a despensa.
Só que um dia a patroa mandou eu ir ao mercadinho do bairro, à noite, comprar sonho.
Engraçado isso de comprar sonho, né Marina? Comprei o sonho dela, e fiquei pensando se sobraria algum pedaço para mim, se algum pedaço de sonho nesse mundo cabia naquele quartinho-sem-janela.
Só que naquela noite conheci seu pai, e senti uma quentura que vinha debaixo da saia. Ele me olhou e eu me derreti inteira.
Era o vendedor do sonho, e me vendeu várias histórias, e passamos a nos encontrar quando todos da casa estavam dormindo, e o mercadinho já havia fechado.
E eu, que não sabia nada do mundo, vi minha barriga crescer, até que a patroa me colocou para rua quando você estava prestes a nascer.
E o vendedor do sonho foi embora, o dono do mercadinho disse que ele saiu e nem pediu as contas.
Ficamos eu e você, Marina. E a vida não foi gentil conosco, nesse mundo que odeia as mães e nos coloca na corda-bamba-em-um-monociclo.
Por sinal, o nome do seu pai era Josemar, por isso seu nome é Marina, e ele me prometeu levar para conhecer o mar, e cá estamos nós, na praia, como se fosse um sonho.
Ana Luisa Zago

Futuro digital (escrita criativa)

A vida exige da gente estar sempre “on-line”: respostas imediatas a qualquer momento do dia.
“Seu trabalho é a disponibilidade”, já disse um chefe em um alto cargo high-tech que tive.
O novo proletariado não tem domingo, não tem feriado, não tem férias.
Não dorme, não almoça, não vai para casa ao meio-dia fazer almoço e assistir ao noticiário em família.
Trabalha em casa, trabalha no trabalho.
Trabalha.
Não produz, mas trabalha.
Assim você pode conviver mais com os filhos, dizem.
E os filhos ficam ali na frente do YouTube, que vai decidindo, entre vídeos curtos em um encadeamento infinito, com será o cérebro daquelas crianças.
Crianças dispersas, pais dispersos.
Ninguém está ali.
Zumbis digitais, sem presença, sem presente.
Cansaço, distração, desinteresse, excesso de informação, falta de vida.
Em algum lugar há o sol, a areia, a grama, e ouvem-se corações pulsantes.
Não ali, onde tudo se mistura e o tempo flui acelerado e desatento, entre os dedos os grãos de areia do tempo passam, caem ao chão, e são varridos para longe da assepsia do lar-trabalho-tela-sem-dia-sem-noite-sem-estações-do-ano.
E rumo a um futuro incerto.
Digital.

10 de dezembro de 2024

Ana Luisa Zago de Moraes

Colonialismo digital (escrita criativa)

Li esses dias que o Brasil não produz chips, tampouco semicondutores, e que as plataformas utilizadas pelas Universidades para armazenar suas pesquisas são estrangeiras.
Colonialismo digital, chamam.
Soube também que os projetos para produção de semicondutores e chips no Brasil ficaram todos inacabados.
Terminou o orçamento e não entregaram, disseram.
Foi o ano fiscal: no outro ano, não houve orçamento para o projeto.
O coordenador teve que mudar para Singapura com a família, alguns pesquisadores conseguiram bolsas nos Estados Unidos e na Europa, e o auxiliar administrativo “virou” Uber.
Uma jornalista tentou pautar o tema na grande mídia, mas os trending topings do Twitter eram sobre política, religião, gênero e racismo.
Se não tiver ódio não vende, disse seu Editor-chefe.
“Mas não é o colonialismo digital que está pautando essa polarização toda? Se não tivermos tecnologia para contrapor vamos virar fantoches!”.
Nisso ela viu as cordinhas movendo os braços do editor, e pensou que é mais fácil vender ódio mesmo.
10 de novembro de 2024 Ana Luisa Zago de Moraes
Sobre Mim

Ana Luisa Zago de Moraes atualmente pesquisa proteção de defensores de direitos humanos ameaçados e regulação das plataformas digitais.