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Futuro digital (escrita criativa)

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A vida exige da gente estar sempre “on-line”: respostas imediatas a qualquer momento do dia.

“Seu trabalho é a disponibilidade”, já disse um chefe em um alto cargo high-tech que tive.

O novo proletariado não tem domingo, não tem feriado, não tem férias.

Não dorme, não almoça, não vai para casa ao meio-dia fazer almoço e assistir ao noticiário em família.

Trabalha em casa, trabalha no trabalho.

Trabalha.

Não produz, mas trabalha.

Assim você pode conviver mais com os filhos, dizem.

E os filhos ficam ali na frente do YouTube, que vai decidindo, entre vídeos curtos em um encadeamento infinito, com será o cérebro daquelas crianças.

Crianças dispersas, pais dispersos.

Ninguém está ali.

Zumbis digitais, sem presença, sem presente.

Cansaço, distração, desinteresse, excesso de informação, falta de vida.

Em algum lugar há o sol, a areia, a grama, e ouvem-se corações pulsantes.

Não ali, onde tudo se mistura e o tempo flui acelerado e desatento, entre os dedos os grãos de areia do tempo passam, caem ao chão, e são varridos para longe da assepsia do lar-trabalho-tela-sem-dia-sem-noite-sem-estações-do-ano.

E rumo a um futuro incerto.

Digital.

10 de dezembro de 2024

Ana Luisa Zago de Moraes

Sobre Mim

Ana Luisa Zago de Moraes atualmente pesquisa proteção de defensores de direitos humanos ameaçados e regulação das plataformas digitais.

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